O espetáculo Equus prorroga temporada no Teatro Folha até 27de setembro com sessões somente as quartas e quintas-feiras. Com Leonardo Miggiorin e Elias Andreato como protagonistas, a montagem da Conteúdo Teatral tem Alexandre Reinecke na direção. O texto, vencedor do prêmio Tony, é um clássico dos palcos em nível mundial e traz uma trama de mistérios, sedução e questionamentos que nem sempre têm respostas.
A história de Equus se desenrola em torno de um enigma: por que um menino aparentemente saudável cegaria cinco cavalos? Baseado em fatos reais, o texto prende a atenção do público, seja pelo mistério, pela sensualidade, ou porque revela que nem tudo na vida tem resposta.
A trama fala do psiquiatra Martin Dysart que investiga os motivos que levaram o jovem Alan Strang, filho único de um pai comunista e uma mãe religiosa, a cometer um crime. Nesta viagem, o psiquiatra acaba enfrentando seus próprios temores. Por meio da luta psicológica entre Alan e o Dr. Dysart os espectadores são levados a questionar conceitos de normalidade e paixão.
O ESPETÁCULO
O texto é um clássico do teatro mundial, vencedor do prêmio Tony. Foi encenado pela primeira vez em 1973, adaptado para o cinema em 1977 e indicado ao Oscar em três categorias – melhor ator, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro adaptado.
O texto foi baseado em um relato de um amigo do autor Peter Shaffer. Ele lhe contou sobre o caso terrível, que abalara a sociedade local, durante uma viagem dos dois pelo interior da Inglaterra. Contado em menos de um minuto, a história, verídica, não revelava lugar, tempo ou personagens. Um mês depois, seu amigo morreu e nada mais pôde ser perguntado. “Tudo que eu tinha era o seu relato de um acontecimento medonho, e o sentimento que isso despertou em mim. O que eu sabia, efetivamente, era que queria interpretá-lo de alguma maneira inteiramente pessoal”, informa o autor em nota sobre a peça.
Das muitas montagens que o texto já teve pelo mundo, três delas são brasileiras e merecem destaque. A primeira, de 1976, dirigida por Celso Nunes, tinha Paulo Autran no papel do psiquiatra e Ewerton de Castro como o jovem perturbado. Outra aconteceu em 1997, com Caco Ciocler interpretando Alan e, finalmente, em 2004, a montagem foi protagonizada por Otávio Augusto e Pedro Garcia Netto e dirigida por Luiz Furlanetto.
A recente montagem de maior projeção foi a inglesa de 2007, devido à polêmica gerada em torno do ator que interpretou Alan, Daniel Radcliffe – o protagonista da saga Harry Potter. O ator, aclamado por adolescentes de todo o mundo por conta do bruxinho, não só enfrentou o desafio de interpretação, exigido pelo personagem do texto de Shaffer, como também as críticas – inclusive de seus pais – por atuar em uma peça que exigia algumas cenas de nudez completa.
NUDEZ
Diante dos temas abordados em Equus, a nudez é um detalhe ínfimo, mas que gera certa polêmica. Leonardo Miggiorin, que faz o jovem Alan nesta montagem ficou apreensivo no começo. “Logo que recebi o convite fiquei desconfortável com a ideia. Mas no decorrer do trabalho, que a nudez foi contextualizada, trabalhada dentro de um propósito muito maior, fiquei mais tranquilo”, conta. O ator começou a carreira cedo e mesmo sendo muito jovem, tem uma bagagem considerável – mais de 40 peças, 15 novelas, minisséries e seriados, além de quatro filmes -, o que ajudou muito na construção do personagem que chama de “desafiador”.
“Alan é apaixonado, intenso, tem um grau de desequilíbrio tênue, cuido para não deixá-lo estereotipado ou caricato, mas ao mesmo tempo, ele beira a esquizofrenia. Ele me exige muita concentração - mais do que o comum -, é preciso muita energia. É um espetáculo extremamente físico, que exige que eu esteja embarcado e, ao mesmo tempo, alerta a todo o momento, representando e dando verdade às cenas”, conta com entusiasmo.
Bruna Thedy, que vive Jill, a namorada de Alan, afirma que é maravilhoso trabalhar em uma montagem que conta com equipe de tamanha qualidade. “É um texto bárbaro, de uma profundidade única e trabalhar nele com esta equipe é muito bacana”, fala. Ela também encara cenas de nudez e leva com naturalidade. “São artísticas, muito leves e sugeridas, afinal o foco da peça é na sensualidade”, argumenta.
“Os personagens são muito ricos em detalhes, é prazeroso percorrer esse universo como ator”, explica Elias Andreato, que faz o psiquiatra. O ator afirma que este personagem é uma mistura de tudo - maturidade, disponibilidade, vivência, de vida e da profissão. Com 35 anos de carreira, Andreato viu a montagem dos anos 70 e acompanhou a repercussão. “Na época, psicanálise era pouco difundida, ao contrário de hoje. Estamos num momento de mais psicanálise e mais drogas, um conceito que se espalhou por todas as classes sociais”, contextualiza para diferenciar o impacto da primeira montagem da peça para esta nova versão.
Ele explica que se sente realizado ao interpretar este personagem tão emblemático. “O bonito nele são essas verdades definitivas que não necessariamente funcionam para todo mundo. Ao tratar do garoto faz com que ele se repense”, explica. Para Andreato, é gratificante poder oferecer conhecimento ao expectador. “O papel do artista é mostrar, propor discussões e o teatro é muito determinante neste aspecto. Muitas vezes, vamos assistir a uma peça que simplesmente muda toda uma vida e permite o despertar para uma nova consciência”, reflete.
Andreato estuda e observa a mente humana, o que lhe dá a segurança de interpretar alguém que rebate o senso comum. “Para o médico, a paixão do garoto – a intensidade do sentimento – não é anormal. E toda esta descoberta, discutir a loucura e a normalidade através da paixão é muito mais bonito”, pontua.
VISÃO DO DIRETOR
Alexandre Reinecke vê a peça como um divisor de águas na sua carreira. “A peça inteira é um desafio. É muito física, exige bastante de todos os atores”, afirma. Antes do convite, nunca imaginou dirigir uma montagem deste texto, mas diz que ficou honrado e muito feliz com o convite. “Até agora, na maioria das vezes, montei dramas contemporâneos como Oração para um Pé de Chinelo, Os Sete Gatinhos, Álbum de Família, Seria Cômico se não Fosse Trágico. É muito bacana poder fazer um drama psicológico”, comemora o diretor.
Reconhecido por uma série de peças cômicas que dirigiu, Reinecke fala que comédias, em geral, ganham mais repercussão. Entretanto, para ele, não há diferenças na forma de trabalhar esta peça em relação a seus maiores sucessos. “Toda peça boa expõe coisas - que às vezes o público não quer ver. A questão é como abordar esses temas. Dirigir é dirigir, não tem segredo em relação ao gênero ou a intensidade do texto”, esclarece. E frisa que os espectadores terão entretenimento de altíssima qualidade em Equus.
É o que enfatiza Léo Steinbruch, produtor do espetáculo e diretor comercial da Conteúdo Teatral, que explica que a montagem é um presente aos apreciadores de arte. “É um dos melhores textos de teatro já escritos, permite o exercício do teatro puro, do trabalho de ator. E para nós, que vivemos de teatro, isso é uma dádiva”, comemora. Léo já havia atuado em uma montagem deste texto, ocasião em que conheceu a obra. Agora, volta aos palcos, interpretando o dono do estábulo. “O ator pode emocionar a plateia sem efeitos pirotécnicos, apenas com os recursos do corpo. É um espetáculo para quem gosta de teatro”, conclui.
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Peter Shaffer
Adaptação e Direção: Alexandre Reinecke
Elenco: Elias Andreato, Leonardo Miggiorin, Patricia Gasppar, Jorge Emil, Mara Carvalho, Paulo Jordão, Gustavo Malheiros, Bruna Thedy e Fernanda Cunha.
Stand-in do Leonardo Miggiorin: Julio Oliveira
Cenários: André Cortez
Cenotécnico: Fernando Bretas (Onozone)
Figurinos: Renata Young
Iluminação: Paulo Cesar de Medeiros
Direção musical: Tunica
Preparação Corporal: Carol Mariottini
Fotografia: Chris Ceneviva
Coordenação de Produção: Isabel Gomez
Assistente de Produção: Manuela Figueiredo
SERVIÇO
Local: Teatro Folha
Estreia: 6 de abril
Temporada: até 27 de setembro
Horários: quarta e quinta-feira, 21h
Ingressos*: R$10 (setor 2) e R$20 (setor 1)
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: 16 anos