Além de sua individual nomeada “Cras (Novo asceticismo)” na galeria Acervo da Choque, artista vai construir escultura de dois metros de altura que ficará exposta por um ano nas imediações do Museu Afro, no Parque do Ibirapuera
São Paulo, março de 2010 - O artista plástico Stephan Doitschinoff, apresenta a exposição individual “Cras (Novo asceticismo)”, na galeria Acervo da Choque, de 10 de abril a 3 de maio. A exposição vai contar com cinco grandes pinturas inéditas, bem como uma série de desenhos.
Inspirada na vida dos ascetas, nessa nova fase, o artista procura refletir sobre os tipos de sacrifícios e privações necessárias para o homem contemporâneo conseguir viver plenamente, sem se deixar bombardear ou alienar pelas armadilhas e vícios mentais da sociedade. “Penso no homem que busca uma maneira de viver nessa sociedade, porém sem negá-la ou dela se excluir”, comenta Doitschinoff.
Cras, amanhã em latim, está marcado na figura de Santo Expedito, simbolizando a urgência de fazer o que deve ser feito, hoje, sem deixar para amanhã o que realmente importa. O novo ascetismo prega exatamente essa urgência. “Ele refuta as grandes corporações (igreja, conglomerados e mídia, como as Três Bestas do Apocalipse), estimulando os pensamentos obsessivos, através do apelo às emoções básicas do ser humano, que nos mantém sob seu julgo, coibindo o prazer total e o pleno aproveitamento da vida”, conta Stephan sobre sua inspiração.
Além disso, Doitschinoff, representado pela Choque Cultural, acaba de ser eleito como Artista Revelação de 2009 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) por conta de sua participação na primeira exposição de arte urbana contemporânea do MASP, De dentro para fora/ De fora para dentro.
Também conhecido como Calma, Doitschinoff teve seu projeto A Mão selecionado pelo edital do Prêmio Interações Estéticas em Pontos de Cultura, da Fundação Nacional das Artes e do Ministério da Cultura (MinC) do Governo Federal. O Prêmio contempla a elaboração de uma grande escultura de cerâmica assinada por Stephan a ser instalada nas imediações do Museu Afro, no Parque do Ibirapuera, por um ano a partir de abril de 2010, bem como a criação de um painel. O objetivo é incitar uma reflexão sobre o diálogo da herança cultural brasileira frente à contemporaneidade.
As atividades de Stephan Doitschinoff se estendem também por rotas internacionais. Ele apresenta, em 25 de julho, uma exposição no Museu de Arte Contemporânea de San Diego e outra na Galeria Subliminal Projects, de Shepard Fairey, em setembro. Diante da força que conquistou com esses projetos, o artista avalia sua nova fase. “Trata-se de uma oportunidade de desenvolver mais trabalhos, como instalações e obras de arte pública que poderão atingir um número maior de pessoas e estimular sua interação.
A Mão
A Mão é o projeto de Stephan Doitschinoff que propõe a instalação de obras de arte produzidas por um grupo diversificado de aprendizes que inclui jovens socialmente desfavorecidos.
Uma de suas inspirações veio do contato com o curador do Museu Afro-Brasil, Emanoel Araújo, que vem se dedicando a preservar e divulgar ao público a herança cultural e artística do negro no Brasil e, dentre essas atividades, organizou uma obra de referência, “A Mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica”, de 1988.
É uma ação educativa, com início em janeiro de 2010, em que o grupo realizará imersão e pesquisa no acervo e nas exposições do Museu Afro Brasil, seguidas de conversas e oficinas com Stephan Doitschinoff, desencadeando interações estéticas com o artista. O conceito do projeto é baseado em dois eixos: identidade e diversidade, rumando para a memória e o simbolismo vindos da África e produzidos aqui pelos negros em contato com a nova terra, além de símbolos contemporâneos de matriz africana.
Entendendo A Mão como fundamental na constituição da identidade nacional, o artista concebeu uma mão de cerâmica, com plantas crescendo em seu interior, além de referências ao seu repertório artístico, que só tem sentido se levada para um espaço público, embora o intuito também seja o de preservar e divulgar a cultura Afro-Brasileira no nível de uma experiência estética viva.
Além da escultura, a segunda ação do projeto apresentará um painel produzido e idealizado pelo grupo juntamente com o artista a ser instalado também em um espaço público, ainda não definido, levando esse processo de reflexão e seu resultado para a sociedade. O desenho do painel será concebido no decorrer do processo sob os conceitos de pluralidade e reconhecimento da diversidade cultural.
“Essa proposta de interação estética visa atentar para a imensa e múltipla trajetória que constitui a sociedade brasileira atualmente, com seus inúmeros protagonistas, cada qual com seus diversos simbolismos”, revela Doitschinoff. O intuito é sensibilizar o público e fomentar a maior consciência e respeito pela diversidade de existências, de conhecimentos, de crenças e de valores.
Mais do que obras de arte, A Mão, de Stephan Doitschinoff, vai atuar como oficina técnica de escultura e pintura como parte da capacitação de um grupo de aprendizes. E, além de toda a pesquisa simbólica que será sintetizada nas obras, o projeto vai suscitar elementos fundamentais para a constituição de uma sociedade diversa:
- Reprodução de símbolos da Língua Brasileira de Sinais;
- A escultura ganha sinais em relevo para que as pessoas com deficiência visual possam apreciar a obra através do toque.
Stephan Doitschinoff, conhecido como Calma, nasceu em São Paulo, em 1977. É um artista autodidata e sua formação foi muito influenciada pela convivência com os mais diversos tipos de crenças e rituais religiosos.
Além de filho de pastor evangélico, neto e bisneto de espíritas, Stephan conviveu no bairro em que passou sua infância e juventude em contato com um centro Hare Chrishna e até mesmo um terreiro de umbanda. Cresceu, assim, absorvendo a estética do simbolismo religioso nas mais diferentes situações, na convivência diversa em sua infância e em meio a estudos sobre religiões orientais, alquimia e arte sacra.
A multiplicidade integra sua história não só em vivências ou estudos da religiosidade, mas também no cotidiano e no percurso profissional. Adolescente, Stephan envolveu-se com a cultura do skate e os movimentos punk e hardcore de São Paulo. Elaborava capas de discos de bandas e trabalhava como assistente do cenógrafo Zé Carratú, pintando cenários de grandes shows de rock dos anos 1990.
Mundos que podem se mostrar tão distantes, em seu percurso se conectam. O envolvimento com o hardcore, por exemplo, o levou a se tornar vegan e, em seguida, macrobiótico. Passou também a estudar o zen budismo e o taoísmo e, devido ao profundo interesse pela influência da religiosidade sobre a mente humana, aprofundou seus estudos em leituras de psicologia junguiana e mitologia, ampliando assim sua pesquisa estética e filosófica.
A partir de 2002, Stephan passa a interagir e intervir na cidade por meio da pintura e da aplicação de pôsteres, adesivos e estênceis. Seu estilo se destaca na cena da nova arte urbana, gerando convites para participar de exposições em diferentes cidades do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa. Trabalhando também com ilustração, sua produção diferenciada lhe rende, em 2006, o prêmio Jabuti de Ilustração, pelo livro “Palavra Cigana” (Cosac Naify).
Após residência artística na Inglaterra, retorna ao Brasil e parte para o desenvolvimento de seu mais audacioso projeto artístico: Lençóis (BA). Imerso na realidade dessa cidade onde morou por três anos, e tendo como fonte de referência e inspiração as crenças e histórias de seus moradores, Stephan realizou intervenções na cidade e seus arredores.
As fachadas dos casebres, a igreja e até mesmo o cemitério formaram um conjunto pictórico de dimensões grandiosas. Essa grande instalação urbana, que envolveu toda a população da cidade, é um trabalho de fôlego que desenvolve importantes questões sobre as dimensões político-sociais da arte pública.
A experiência foi documentada no filme Temporal, produzido pela Movie Art, e em sua monografia Calma. The Art of Stephan Doitschinof, publicada pela editora alemã Gestalten.
Integrando a mostra De Dentro para Fora/ De Fora para Dentro no Museu de Arte de São Paulo, Stephan apresentou uma retrospectiva de suas pinturas e desenhos, fotografias documentais do trabalho realizado na Bahia, o mural AD ASTRA PER A SP ER A e uma complexa instalação com o título NOVO ASCETICISMO. As produções expostas, realizadas em diferentes técnicas e suportes, distribuídas em quatro ambientes, levaram o artista a receber o título de Artista Revelação de 2009, pela APCA- Associação Paulista de Críticos de Arte.
No mesmo ano, recebeu também o prêmio Interações Estéticas: Residências Artísticas em Pontos de Cultura. A premiação, realizada por um edital da Fundação Nacional das Artes e do Ministério da Cultura, contemplará seu próximo projeto autoral, nomeado A Mão. O intuito dessa proposta artística e educativa é, por meio da instalação em espaços públicos de obras produzidas pelo artista e por um grupo especial de aprendizes, incitar uma reflexão sobre o diálogo de nossa herança cultural com a contemporaneidade. Os produtos dessa experiência serão um grande painel produzido coletivamente e uma escultura, que será instalada nos arredores do Ponto de Cultura Museu Afro Brasil.
Próximas Exposições:
- SP ARTE – Com a galeria Choque Cultural – São Paulo/ BR
- Anniversary Show - Jonathan LeVine Gallery – NY/ EUA
- San Diego Museum of Contemporary Arts – San Diego/ EUA
- Subliminal Space Gallery – Los Angeles/ EUA
CRAS (Novo Asceticismo) por Stephan Doitschinoff
Abertura: 8 de abril, às 19h
De 10 de abril a 3 de maio
Acervo da Choque
Rua Medeiros de Albuquerque, 250, Vila Madalena, São Paulo
Telefone (11) 3061-2365
Visitação aberta aos sábados, das 13h às 18h
Grátis
Livre