Após ganhar destaque na cena underground de São Paulo, Crônica Urbana
lança seu primeiro CD, com canções que marcaram suas apresentações
Cansados de um rock que se torna cada vez mais melancólico, repleto de chavões e rimas fáceis, a Crônica Urbana chega para relatar o que há de melhor em sonoridade e resgatar o antigo som pesado do rock n' roll, com atitude, críticas sociais e mensagens de esperança e melhores caminhos.
“Efeito Colateral”, seu primeiro CD, é o resultado de vários shows e cinco anos de banda, que trouxeram o amadurecimento necessário para reproduzir em 12 faixas sua visão de mundo e mostrar o um pouco do que é o universo urbano em forma de crônicas transformadas em canções.
A banda é formada por Diogo Negão nos vocais, Felipe Ferreira no backing vocal e guitarra, Fabio Kawano na outra guitarra, Augusto Targa no baixo e Guilherme Neder na bateria.
A primeira faixa do CD é homônima. “Efeito Colateral” traz em seu som e letra os motivos que levam a banda a tocar: “tudo o que eu sempre quis, me expressar no microfone, detonando a miséria, injustiça e fome […] Crônica Urbana na área, sangue bom. Efeito Colateral, produto da omissão”.
“Nada de novo”, mostra lembranças de um sentimento muito forte, que prestes a acabar mostra que o caminho é sempre o mesmo e que não há o que fazer, apenas levantar e seguir.
“Cidade dos homens” é uma das mais conhecidas do público. Mostra o cotidiano de um trabalhador que todo dia sofre as malevolências e a incapacidade de um sistema vencido, que exige cuidado. A primeira estrofe já proclama “Não sou qualquer vagabundo pra você me colocar medo. Anda logo com a revista que amanhã acordo cedo”. E termina: “Ontem fui enquadrado e hoje faço rima, insistem em procurar, nada vão encontrar. Na cidade dos homens, cuidado com o que você parece ser”.
A quarta faixa expressa de modo simples conceitos que povoam o imaginário popular. É o modo como a Crônica reflete sobre verdades e injustiça. Política e descriminação estão no centro de “Caminhos” que diz “chamem de partido o que eu chamo de quadrilha, chamem de verdade o que eu chamo de mentira, chamem de promessa o que eu chamo de hipocrisia”. A verdade é expressa no refrão “a justiça não é farda, a justiça está no ar, a verdade não é branca, o crime não é negro, a favela não é boca, muito menos cativeiro”.
Outra conhecida dos fãs é “Go Ahead”, composta pelo vocalista Diogo Negão, que pouco a pouco foi conquistando o público. “A vida é movimento, é atitude, é proceder. Se não é fácil pra ninguém, não vai ser fácil pra você. […] Pensamentos alinhados com o que diz o coração, sabedoria pra entender o que é sim, o que é não […] Go ahead, não fica parado no meio da ladeira”.
“O que tiver que ser” é a mais romântica do disco e mostra a solidão de um caso recém terminado e atitudes de um pequeno universo que levam inexoravelmente à solidão e contradição. “Apaguei seu telefone pra não te ligar de novo e até tentei outras maneiras pra não pensar em você […] Não sei o que vai dar, não sei o que dizer. Quero respostas para as perguntas que eu não sei fazer. Tua presença me perturba e me faz bem”.
A sétima canção, “Volume Mais Alto”, volta ao tema da contradição e aos motivos pela qual a música tem de ser escrita, mostra a missão que todo compositor traz dentro de si. “Um grito sai da minha garganta e alivia minha dor. Diverte, incomoda – esqueço da falta de amor. Na volta choro por dentro. Rotina de fato. Escutando Rage Against no volume mais alto”.
“Atitude” é um banho moral. A rotina de quem pensa em mudar algo e se move, faz acontecer e busca a plenitude de uma vida correta. “Vontade de comer amor, arroz, feijão. Alegria e atenção, mas não importa se agora é Natal ou 12 de outubro. Dignidade vale para o ano inteiro. […] Amor é coisa simples, tão difícil de achar. Mas falar da realidade social em versos também é saber amar”.
A próxima música, “Cortina de Fumaça” mostra que Crônica Urbana não é apenas um nome, mas sim um motivo, uma razão para cantar o cotidiano de cidadãos comuns que podem ir muito além. “O teu desejo escondido atrás da rotina. O dia a dia é uma cortina de fumaça. A imagem construída atrás da retina que a sua atitude há tanto tempo que disfarça. Como caminhar sem saber pra onde ir? Como conquistar sem saber aonde chegar?”.
A realidade nua, as bombas, o sangue, o crime organizado, o terrorismo e política internacional são cantados em “Sede de Revolta”. Uma visão de mundo mostrado pela Crônica Urbana, que mostra a crueldade que consome a todos e, hoje em dia, nem chega a espantar. “A sede de revolta é ofuscada e nunca saciada, e nunca revelada. Circo de coisas banais confundindo você. Verdades tão difíceis de entender”.
“Novo Dia”, traz a esperança como temática e mostra como a possibilidade de novos horizontes sempre povoa nossos pensamentos. “Um novo dia nasceu e a noite chegou. Já escureceu. A vida passa tão depressa. Quero com você viajar pelo ar”.
A última música do disco, “Linha de Tiro”, mostra os perigos do cotidiano de cidadãos comuns que se deparam com a violência em seu trajeto. “Cuidado com a linha de tiro. Pego um caminho seguro. Reconheço a procedência de ferro pelo intervalo do barulho”. É o destino traçado que luta contra a esperança, como afirma Diogo Negão na letra.
Esta é a Crônica Urbana. Um som denso, expressivo e que reflete nossas verdades em forma de canções. Politizado sem ser pedante, forte sem ser cansativo e, principalmente, honesto, que busca rumos corretos e traz a mensagem da esperança e da retidão.