Graciliano Ramos, homenageado na Flip deste ano, será foco de mesa com debate sobre suas posições políticas e sua relação com o Estado Novo
O escritor amazonense Milton Hatoum fará a conferência de abertura da 11ª edição da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty. Grande conhecedor do escritor alagoano, Hatoum discorrerá sobre a importância da obra de Graciliano Ramos não só na literatura, mas em toda a cultura brasileira, incluindo o cinema e a política.
Hatoum lembra bem o primeiro contato que teve com a obra de Graciliano, ainda no colégio. Foi quando leu “Vidas secas” e passou a conhecer um novo mundo, com os detalhes da vida no sertão e os problemas sociais abordados pelo livro. Além das informações, o que impressionou Hatoum foi a linguagem, o estilo da escrita e a perspectiva realista com que Graciliano apresenta os dramas humanos e o embrutecimento do homem.
Hatoum nasceu em 1952, estudou arquitetura na Universidade de São Paulo e ensinou literatura brasileira e francesa na Universidade Federal do Amazonas, além de ter sido professor residente na Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA). Lançou seu primeiro livro em 1989, “Relato de um Certo Oriente”, que lhe valeu o prêmio Jabuti de melhor romance. Foi ainda o vencedor de outros dois Jabuti, com “Dois irmãos” (2000) e “Cinzas do Norte” (2005). Sua obra já foi traduzida em 12 línguas e publicada em 14 países.
Debate e estudo
A 11ª edição da Flip terá como homenageado Graciliano Ramos. No próximo dia 27 de outubro completam-se 120 anos do nascimento do autor, natural de Quebrangulo, Alagoas. Escritor, jornalista e político, Graciliano teve uma vida em que a literatura e a política se entrelaçaram e, não raro, suas convicções e atividade política inspiraram obras de forte conteúdo social.
Graciliano será foco de uma mesa que abordará seu envolvimento com a política brasileira. O debate será embasado por um estudo inédito preparado pelo norte-americano Randal Johnson, professor do departamento de Espanhol e Português da Universidade da Califórnia, sobre as relações do autor com o Estado Novo. Convidado da Flip, Johnson rediscute a idéia de que Graciliano seria comunista já antes da prisão, em 1936.
Em seu estudo, Randal Johnson examina a trajetória intelectual de quatro autores brasileiros – Mário de Andrade, Cassiano Ricardo, Octávio de Faria e Graciliano Ramos – que representaram diferentes posições políticas nas décadas de 1930 e 1940. No capítulo dedicado a Graciliano, o autor analisa sua construção como um escritor de esquerda, a partir dos livros “Caetés” (1933) e “São Bernardo” (1934).
Autores já divulgados
Até o momento, a Flip confirmou para a edição de 2013 a vinda da autora norte-americana Lydia Davis, do irlandês John Banville, do escritor bósnio Aleksandar Hemon, e da brasileira Cleonice Berardinelli, professoraemérita da UFRJ e da PUC-Rio e membro da Academia Brasileira de Letras. Especialista na obra de Fernando Pessoa, Berardinelli subirá ao palco da Flip ao lado da cantora Maria Bethânia para homenagear o poeta português.