18 de novembro de 2021

Ford Maverick, furtado antes de ser lançado, vai da delegacia para o pódio das 25 Horas de Interlagos de 1973




Confira o podcast em https://soundcloud.com/user-645576547

Outubro de 1973, no meu Ford Corcel persegui um Maverick de corridas furtado pelas ruas de São Paulo. Infelizmente, o Corcel não foi páreo para potente motor V8 de 250 cavalos e os bandidos fugiram, mas o carro foi encontrado logo em seguida, a tempo de correr a primeira edição das 25 Horas de Interlagos e terminar em quarto lugar, com os pilotos Marivaldo Fernandes, Affonso Giaffone e Totó Porto.


Tudo isso ocorreu antes mesmo do Ford Maverick ser lançado oficialmente no Brasil. Naquela época, para promover o novo modelo no mercado brasileiro, a Ford vendeu algumas unidades para vários pilotos, além do carro oficial da equipe Ford, pilotado pelos irmãos Bird e Nilson Clemente, e Clóvis de Morais, e chefiada por Luiz Antonio Greco.


Um desses carros exclusivos foi comprado pelo piloto Marivaldo Fernandes que, ao receber o veículo na concessionária Caltabiano, mandou entregá-lo na oficina de Greco, localizada na Rua Clodomiro Amazonas, bairro do Itaim, para a instalação de alguns componentes e a necessária preparação.

Na quarta-feira que antecedia a corrida, realizada no final de semana, a equipe de Greco terminou o trabalho e mandou o carro para lavagem num posto de gasolina das imediações. Mas, no fim da tarde, o gerente do posto informou que o carro havia sido furtado. O automóvel, modelo cupê 2 portas, equipado com motor V8 e pintado na cor amarela clara, era muito atraente, além de novidade do mercado. Ao receber a informação sobre o furto, Luiz Antonio Greco telefonou para Marivaldo, que não acreditou na história. "Obrigado pela gozação", respondeu Marivaldo.

Ao me dirigir para o Jornal a Tarde, onde trabalhava, passei pela oficina do Greco e fui informado sobre o ocorrido e fiquei preocupado. Faltavam três dias para a corrida e não haveria tempo para a compra de outro carro e realização do trabalho de preparação. Embora não acreditasse, Marivaldo e seus parceiros Affonso Giaffone Júnior e Totó Porto não correriam e ficariam decepcionados.

Na noite daquela quarta-feira, fui à sede da Federação de Automobilismo para levantar informações, acompanhado da minha esposa, Stella, e, ao chegar à Avenida Domingos de Moraes, a dois quarteirões da federação, parei no semáforo e vi o Maverick de Marivaldo. Por sorte, o semáforo da rua seguinte fechou e o da rua em que eu estava abriu, me permitindo parar atrás do Maverick.

Naturalmente, imaginei que carro tivesse sido recuperado e que Marivaldo estava ao volante e também iria à sede da federação para alguma providência.

Segui o Maverick e ao me aproximar da sede da federação já procurava um espaço para estacionar, mas me surpreendi porque o carro não parou. Estranhei esse fato e continuei a acompanhá-lo o que me permitiu analisar se era mesmo o carro de Marivaldo.

A primeira identificação foi o adesivo com o nome da Caltabiano, onde Marivaldo o havia comprado, mais à frente, numa curva à esquerda identifiquei as rodas de alumínio utilizadas em competição e também notei a barra de proteção interior, o famoso "santo antônio" obrigatório para corridas. Mais à frente, percebi que dois jovens de aparência muito simples ocupavam o automóvel. Ou seja, era o carro que havia sido furtado.

Continuei a segui-lo discretamente na esperança de cruzar com uma viatura policial para pedir ajuda, mas quando chegamos à Avenida Cursino, no bairro de Monções, em direção a uma parte deserta e sem iluminação, resolvi surpreendê-los. Ultrapassei o Maverick e, ao ficar à sua frente, parei o Corcel que dirigia, na esperança de que eles abandonassem o Maverick. Mas o motorista era bom, engatou uma veloz marcha à ré, obrigando-me a fazer o mesmo, e entrou em uma rua estreita.

Procurei segui-lo mas ele, conhecedor do bairro, bom motorista e num Maverick com motor superior a 250 cv de potência, não consegui acompanhá-lo no meu Corcel.

Ao perdê-lo, procurei uma delegacia para informar que o Maverick amarelo estava nas redondezas. O delegado me atendeu, mandou registrar as informações, distribuir a notícia para a rede e, ao me despedir, me chamou de irresponsável, principalmente por ter posto em risco a minha integridade e a de minha mulher. O que ele mais enfatizou foi sobre o risco de os marginais estarem armados e poderem disparar nos atingido.

No dia seguinte soube que o Maverick foi localizado pela polícia e que Greco foi retirá-lo da delegacia. O Marivaldo correu com ele formando um trio com Affonso Giaffone Júnior e Totó Porto, obtendo o quarto jogar na competição. Ele nunca acreditou na história do furto e considerou uma brincadeira de Luiz Antonio Greco.

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