5 de outubro de 2012

Outubro Rosa: pela detecção precoce do câncer de mama



Anualmente, celebra-se em diversos países o mês da prevenção e detecção precoce do câncer de mama: é o Outubro Rosa, movimento popular que teve sua primeira edição na Califórnia (EUA), em 1997, e espalhou-se pelo mundo. Neste mês, campanhas divulgam informações sobre a doença e, especialmente, a importância de detectá-la em estágio inicial, quando as chances de cura chegam a 100%.

João Ricardo Auler Paloschi, mastologista do Hospital Amaral Carvalho (HAC), explica que este é um movimento de conscientização. “Muitas pessoas têm a visão de que o câncer de mama é uma sentença de morte e o Outubro Rosa é uma oportunidade de mostrar à população que há qualidade de vida pós-tratamento e chances elevadas de cura”.

A necessidade do autoconhecimento e valorização da mulher veem à tona no mês cor-de-rosa. De acordo com Paloschi, as pessoas precisam ver além dos mitos que rondam o assunto. “É um lembrete às mulheres de que elas devem estar atentas não só às mamas, mas à sua saúde de maneira geral”, enfatiza.

Informação
O câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete mulheres no Brasil e na maioria dos outros países. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no período de 2012 / 2013 cerca de 53 mil novos casos de câncer de mama serão detectados no país. Desses, estima-se aproximadamente 12 mil mortes. Contudo, essa realidade pode mudar com a disseminação de informações. Não raro, quando uma mulher diz que está com câncer de mama, em vez de encontrar apoio e palavras de conforto, escuta lamentações e afirmações sem fundamento. Paloschi esclarece que por isso é importante entender a doença. “Aquela história de que ‘quem procura, acha’ ou ‘é melhor não mexer, senão espalha’, são achismos que devem ser banidos”.

O médico é enfático ao dizer que a morte por câncer varia muito, de acordo com os estadiamentos da doença: quanto mais avançada, maiores as chances de insucesso no tratamento.

“Às vezes me perguntam se é muito difícil dar um diagnóstico de câncer de mama. Sinceramente, não é fácil! Mas é menos difícil do que se imagina, porque a visão que as pessoas têm do câncer de mama, antes de conhecer a realidade, é infinitamente pior do que aquilo que vou explicar para ela. Na verdade, o câncer de mama na cabeça do indivíduo é muitas vezes incurável; a pessoa só consegue enxergar o lado ruim e as dificuldades do tratamento. Quando mostro a realidade, digo o que vai ser feito, quais são as chances, lógico que não é agradável, mas o impacto é menor do que o esperado”, relata Paloschi.

Reclassificação
Em linhas gerais, o câncer é uma patologia que se caracteriza por células alteradas, que perdem o controle na sua multiplicação. “As células normais têm um ciclo de vida conhecido: nascem, se desenvolvem, desempenham suas funções determinadas, envelhecem e morrem. O câncer é a quebra desse ciclo”, pontua o mastologista. Para facilitar a compreensão, pode-se imaginar que a célula alterada perde suas funções e se multiplica mais rapidamente, sem os devidos mecanismos de controle. Essa multiplicação pode acometer os órgãos vizinhos e suas funções também.

Recentemente, muito tem se falado em reclassificação dos tipos de tumores de mama, mas, segundo Paloschi, esses estudos não são novidade. “Há algum tempo sabemos que existem 4 grandes grupos de tipos tumorais, em relação a uma análise imunobiológica, se é que podemos assim dizer. Entretanto, estamos engatinhando ainda no que se refere a tratar esses diferentes grupos individualmente. Dependendo de cada um deles, podemos variar o tipo de cirurgia ou quimioterápicos e também utilizar de medicações específicas, conhecidas como terapia alvo. Esses novos conhecimentos permitem que realizemos um tratamento mais eficiente para cada um desses grupos. A expectativa é de que o avanço das pesquisas tragam novos métodos, medicações, cirurgias, entre outros, que poderão aumentar ainda mais as chances de cura da doença, individualizando cada caso. É sem dúvida um momento de muita expectativa de um futuro mais promissor na busca da cura do câncer de mama”, argumenta.

Tratamento padrão
Procedimento cirúrgico (local), quimioterapia, hormonioterapia ou terapia alvo (sistêmico), e radioterapia (que volta ao controle local), são os procedimentos básicos do protocolo para tratamento do câncer de mama. No entanto, o médico do HAC salienta que nem todas as pacientes precisam das quatro modalidades terapêuticas, assim como algumas precisariam, mas não possuem condições clínicas adequadas para tal. “Por exemplo, uma paciente de 90 anos não resistiria a todo o processo, então, o ideal é adequar o tratamento à realidade da paciente. Esgotamos as possibilidades dentro de cada caso”.

Sintomas
O nódulo palpável é o sintoma mais comum do câncer de mama, detectado por meio do autoexame das mamas (veja quadro), procedimento que deve ser realizado mensalmente, após o período menstrual. As mulheres devem ficar atentas também à:
Retração da pele;
Alteração do contorno da mama;
Retração do mamilo;
Assimetria das mamas;
Avermelhamento da pele das mamas;
Inchaço nas mamas;
Secreção mamilar com sangue;
Gânglios que surgem nas axilas que crescem e persistem (não somem).

É importante lembrar que se a mulher tem algum desses sintomas não significa que tem câncer de mama. “Existem inúmeras outras doenças de mama que podem provocar esses sinais e sintomas, que são simples de tratar, mas que merecem atenção”, orienta Paloschi.

Com relação aos mitos acerca dos sintomas, o médico do HAC ressalta que independente do tamanho, rigidez do nódulo, apresentar dor ou não, o mastologista deve ser consultado. É ele o especialista que saberá avaliar as queixas, solicitar exames complementares e diagnosticar a doença em questão.

Paloschi comenta que também é muito comum as pessoas acharem que só devem procurar atendimento e realizar exames para avaliar a saúde mamária se apresentarem algum sintoma. Não é bem assim. Nem sempre o paciente com câncer de mama apresenta sintomas. “As pessoas acham que é preciso ter um sintoma para ter um problema de saúde. Você pode ter pressão alta e não sentir nada, ter diabetes e não apresentar qualquer sinal, enfim, muitas doenças só apresentam sintomas quando em estágio avançado e isso pode acontecer com o câncer de mama também”, adianta Paloschi. Por isso a importância de se realizar exames preventivos que devem ser realizados de acordo com as orientações médicas, em pacientes assintomáticos.

Mamografia e ultrassom
Mulheres assintomáticas, com idade a partir de 40 anos devem realizar o exame de rastreamento, a mamografia. “Quanto maior a idade, maiores as chances de desenvolver a doença, portanto, o exame deve ser feito anualmente”, explica o mastologista. Os exames indicados pelo médico poderão encontrar lesões ainda impalpáveis, de milímetros, e isso facilitará muito o tratamento e a cura da doença.

Mulheres de qualquer idade, com queixa específica, devem procurar um mastologista para investigação diagnóstica.

Segundo o médico, em um país como o Brasil, onde a mamografia ainda é de difícil acesso em muitos locais, o Outubro Rosa também torna-se uma possibilidade de fazer o exame, já que muitas ações incluem mutirão de mamografias.   Ainda de acordo com o mastologista, vale destacar que o ultrassom é um exame complementar, que deve ser solicitado a critério do médico responsável e não substitui a mamografia.

Por que procurar um mastologista?
Se por volta de 40 anos atrás, o mesmo médico tratava desde unha encravada até infarto, hoje as coisas são diferentes. Graças à evolução da medicina, para a maioria dos órgãos humanos, há um especialista. “A meu ver isso é fundamental, pois o médico especialista tem um conhecimento indiscutivelmente mais amplo e profundo sobre as patologias que atua, podendo realizar um tratamento no mínimo mais eficiente”, considera Paloschi.

E ninguém melhor do que o mastologista — que para especializar-se nessa área, deve ter formação inicial em cirurgia geral ou ginecologia — para diagnosticar e prevenir doenças da mama, não só o câncer. “Não é preciso estar com algum problema para procurar o mastologista. É importante que as pessoas entendam que a conduta preventiva garante o diagnóstico precoce de qualquer alteração nas mamas, o que reflete positivamente nos resultados de qualquer tratamento”, lembra Paloschi.

Cultura
O cenário atual, especialmente do Brasil, mostra que ainda há muito que se fazer para conscientizar a população sobre o câncer de mama. Há pessoas que não realizam o autoexame, não procuram acompanhamento médico de prevenção, entre tantas outras coisas que deixam de fazer. “Um grande problema do nosso país é que as pessoas deixam tudo para a última hora, inclusive na saúde. A mudança desse paradigma é essencial para conscientizar a sociedade das medidas preventivas", complementa o médico.

O diagnóstico precoce permite um tratamento menos agressivo. O médico acredita que o foco das campanhas deve mudar em alguns aspectos. “É preciso mostrar os benefícios do diagnóstico precoce. Hoje dispomos de diversos recursos cirúrgicos, como a biópsia do linfonodo sentinela, as cirurgias minimamente invasivas, as reconstruções mamárias utilizando-se de técnicas oncoplásticas entre outras, mas que são voltadas às pacientes com diagnósticos mais precoces. Ainda, tratamentos de quimio e radioterápicos podem ser mais brandos ou mesmo não ocorrer, dependendo da precocidade do diagnóstico. Quando a paciente se der conta desses grandes benefícios, quem sabe busque por si só um hábito preventivo, não só em relação à saúde mamária?", questiona o mastologista.

Autoestima
O Hospital Amaral Carvalho recebe anualmente, entre convênios, particulares e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cerca de 600 novos casos de câncer de mama. Paloschi esclarece que é fundamental o apoio do serviço de Psicologia da instituição, que realiza visitas e acompanhamento aos pacientes enquanto estão internados e atendimento aos pacientes ambulatoriais quando necessário.

O motivo, revela o médico, é facilitar o tratamento, aumentar a adesão, tranquilizar e apoiar o paciente diante dos novos desafios a serem enfrentados por ele. "Dessa forma, não tenho dúvidas que as chances de sucesso serão maiores", reafirma o médico. “Nós tratamos um doente, não uma doença. Tratar um paciente hígido, que pensa positivo, que está disposto, com a autoestima elevada, é muito mais provável de o tratamento dar certo, do que num paciente que não confia, não acredita, não quer”, diz.

Por isso, autoestima e apoio da família são aspectos essenciais para o sucesso do tratamento e recuperação do paciente. “O sistema imunológico reage com maior eficiência, sem dúvida, o que só tem a ajudar”, completa o médico.

Você sabia?
Quanto maior a idade, maiores as chances de desenvolver câncer de mama? Mas isso não quer dizer que pessoas mais jovens não possam ter a doença.

Que, teoricamente, para cada 100 mulheres, apenas 1 homem desenvolve o câncer de mama? É incomum, mas homens também podem ter esse tipo de câncer.

Integram o grupo de risco do câncer de mama: obesos, pessoas que bebem rotineiramente e mulheres que usam medicamentos hormonais sem controle e acompanhamento médico?
Que não é preciso ter casos de câncer de mama na família para desenvolver a doença?

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