16 de março de 2011

Coletiva Choque 2011 apresenta as apostas da galeria e novos nomes em seu casting


Nessa coletiva, a Choque Cultural mostra trabalhos de Cesar Profeta, Emerson Pingarilho, Fefe Talavera, Pacolli e dos coletivos Base-V e SHN

A partir deste sábado, 19 de março, a Choque Cultural realiza sua primeira exposição coletiva de 2011, a Coletiva Choque 2011. Os artistas Cesar Profeta, Pacolli e o coletivo Base-V são novidade na galeria. Já Emerson Pingarilho, Fefe Talavera e o SHN, que já são conhecidos de seu público, apresentam novos trabalhos.

“A Coletiva Choque 2011 mostra a diversidade de linguagem que caracteriza a nova geração, inspirada numa rede de referências muito abrangente”, adianta Baixo Ribeiro, galerista e proprietário da Choque Cultural.

O público deve conferir a geometria abstrata nascida e formada na arte urbana e apresentada por Cesar Profeta. Há lugar também para a pintura geométrico-figurativa do gaúcho Emerson Pingarilho e o universo expressionista de inspiração mexicana nos scratches (desenhos feitos ranhuras de goivas sobre vidro pintado) de Fefe Talavera. Pacolli volta ao Brasil para fazer uma releitura irreverente da imagem inocente de seus já conhecidos cartuns. O Coletivo Base-V estreia na Choque Cultural apresentando uma fusão da pintura e da arquitetura ao passo em que o SHN faz uso de colagens, serigrafia, fotografia e vídeo.

“O trabalho dos quatro artistas e dois coletivos da mostra aponta para a vontade de estabelecer novos parâmetros de contato com o público e propõe uma experiência única de imersão aos visitantes”, detalha Mariana Martins, galerista e proprietária da Choque Cultural. Além das telas, desenhos, esculturas, vídeos e fotografia, os artistas exploram suportes, como instalação, arte ambiente, site specific (obra feita especialmente para um espaço) e intervenções urbanas (no entorno da galeria, nas ruas e imóveis próximos).

A exposição será acompanhada de encontros dos artistas com o público, workshops com colecionadores, visitas guiadas (dentro e fora da galeria) e lançamentos de gravuras. Esses eventos farão parte da programação da Choque Cultural no período da exposição, que segue até 21 de maio.

Base-V www.base-v.org
O Base-V, atualmente formado por Danilo Oliveira, 29, David Magila, 32, e Zansky, 31, apresenta duas telas e dois murais. O coletivo mostra sua recente produção que usa desenho com carvão e varia a técnica de pintura acrílica - técnica mista. “Na verdade, a questão técnica se adéqua muito ao suporte. Em tela usamos muito tinta acrílica, carvão e marcador e um pouco de spray. Em parede, usamos muita tinta látex, marcador, por vezes stencil e até tinta óleo, esmalte. Fazemos muita serigrafia, assim como arte digital”, explica Danilo Oliveira.

Este grupo de artistas de São Paulo atua desde 2002 e trabalha a partir da experimentação livre e improvisação. Para eles, é muito limitador encerrar uma obra em uma idéia ou conceito, quando muitas vezes o que vale mesmo são as sensações. Contam que o grupo surgiu com a intenção justamente de borrar os limites entre o que pode ser interpretado como "arte" e a "baixa" cultura, a reprodução, o discurso livre, o não-discurso.

O Base-V acredita que, durante a execução, habilidades individuais perdem sua importância. “Portanto, focamos muito mais na criação de um conceito de trabalho aberto, uma abordagem livre das questões autorais”, comenta Danilo Olveira. O resultado final, então, adquire uma identidade nova. A massa revela uma grande variedade de texturas, harmonias, timbres e materiais, onde cada integrante do grupo deixa seu rastro e o próximo o mostra (ou deleta) dentro de um novo universo de referências.

Assim como o SHN, o Base-V tem na realização de oficinas forte característica, em que dividem com outros artistas e interessados seus conhecimentos artísticos. Em seu currículo, o Base-V concentra diversas exposições, entre individuais e coletivas. Entre as coletivas, destacam-se: RojoNOVA no MIS (Museu da Imagem e do Som), Do Papel ao Pixel na Galeria Marta Traba (Memorial da América Latina) e TRANSFER no Pavilhão das Culturas Brasileiras (Parque Ibirapuera). A individual Basado en Hechos Reales na galeria Hollywood in Cambodia (Buenos Aires) também merece atenção. Participaram, também, de publicações como ”Latino Grafico - Visual Culture from Latin America”, Die Gestalten Verlag, Alemanha, 2010; ”Screenprint Basics - A Complete How To Handbook”, Gingko Press, EUA, 2010; ”Stuffz - Design on Materials” autor: Bigbros Workshop, Gingko Press, EUA, 2009.


Nesta exposição coletiva, Cesar Profeta, mostra pela primeira vez na Choque Cultural, duas telas. Uma delas, de 1,50m x 2,0 m, Raio Dois, nasceu da observação que artista fez de uma São Paulo repleta de raios durante a temporada de chuvas de verão. Segundo Profeta, há até uma mensagem subliminar para intrigar o expectador. Ele, que veio do graffiti, do skate, da cultura do faça-você-mesmo, sugere um resgate as suas raízes criativas em que apresenta um geometrismo abstrato, além de tipologia old school num rico cromatismo que impõe forte impacto no espaço urbano.

A base da obra de profeta está em pinturas, objetos e esculturas feitos em materiais descartados pela sociedade e usados por ele como suporte, aliados a mascaras de stencil, fita crepe, trena métrica, colagem etc. Desenhos abstratos, formas geométricas e matemáticas que se articulam e se reproduzem, provocam novas combinações e propiciam diversos percursos visuais, que denotam uma preocupação notória na qualidade de suas peças, que vem complementar o processo de amadurecimento do artista. “Não tenho um processo esquematizado; na verdade atuo como que em uma loucura lúcida”, revela o artista.

Artista plástico independente, Cesar Profeta, 36 anos, nasceu e foi criado em meio às ruas do tradicional bairro da Mooca, em São Paulo Brasil, local onde vive e trabalha atualmente. Sua primeira exposição ocorreu na Mooca, junto do Coletivo Lambdalambs, e hoje seu currículo contém, inclusive, exposições coletivas no MAC-USP e na Alemanha, na Stroke.01 Urban Art Fair Munich. Costuma utilizar o número sete em algumas obras, numa referência à perfeição.

Emerson Pingarilho www.aural.com.br
Emerson Pingarilho, 34 anos, apresenta na Coletiva Choque 2011, cinco pinturas em tinta acrílica de tamanhos médios, que completam uma série que vinha desenvolvendo no último ano – uma delas fez parte da exposição Transfer (Pavilhão das Culturas Brasileiras – 2010). Mas o artista ainda garante uma surpresa para essa exposição, que só poderá ser vista na galeria.

Pingarilho conta que a principal mensagem a ser transmitida em seus trabalhos é o amor. “O homem com amor no coração não possui barreiras, deixa-se levar pela vida”, conta. “As pinturas são apenas janelas pessoais. Em todos os meus trabalhos o princípio do conflito está presente também como afirmação, nos filmes e nos desenhos. A própria pintura geométrico-figurativa é um conflito em si e isso torna as coisas nada estáveis em que o caos é iminente, mas de qualquer forma não há nada que supere o amor, completa o artista. O processo criativo de Pingarilho é inicialmente antropofágico em que, através da afetividade, o artista se cerca de imagens que o tocam. Há momentos em que sua mente é invadida por lembranças de visões, como um sonho premonitório, pois é o que vai desencadear a idéia para pintura.

Emerson costuma discutir sobre seus trabalhos com outros artistas. Com isso, tem mostrado obras em que incorpora aquilo que chama grafismo indígena e o ritualismo que cerca a gênese dessa expressão. “O Metagrafismo é geométrico-figurativo mas não chega a ser pintura pictórica, ela é justamente esse crossover do clássico-moderno-tosco-visionista-bruto”, constata Pingarilho.

Nascido no Rio Grande do Sul, mas criado em Manaus, Emerson Pingarilho teve uma infância com os dois extremos: o mundo do matagal e do Rio Negro e o mundo dos pampas, das ruínas da colonização. Seu estilo é baseado em influências de índios nativos, animais selvagens e a cultura antropológica brasileira, que se convertem em pinturas e filmes experimentais.

Fefe Talavera, 31 anos, apresenta uma série de desenhos que são ranhuras sobre vidro pintado, como se fossem scratches de referências ao expressionismo mesclado a referências mexicanas. “Meus trabalhos estão sempre mudando no que se refere à técnica, mas continuam com a mesma essência; são trabalhos feitos praticamente a partir de um sentimento momentâneo e variam entre sentimentos negativos e positivos”, conta Fefe, que usa nanquim, tinta acrílica, madeira raspada e caixas de luz para criar.

A artista revela que alguns dos trabalhos são muito pessoais, como uma válvula de escape. “Escrevo o que me vem na cabeça no momento e pinto o que sinto. Busco a luz. Já meus monstros de letras são mais divertidos, coloridos e são feitos pra morar na rua ou dentro dos quartos das crianças”, diz.

Fefe Talavera é um dos expoentes da arte urbana contemporânea, com um currículo que abrange sete exposições individuais e 34 coletivas. A artista esteve presente na exposição inaugural da Choque Cultural, Calaveras, e no intercambio de galerias, a exposição Choque Cultural na Fortes Vilaça, Fortes Vilaça na Choque Cultural. A mais recente foi a exposição "Sub Glob II” na Suécia, em 2010.

Patricia Colli, conhecida como Pacolli, é uma brasileira de 28 anos radicada nos Estados Unidos. Peça chave da cena independente paulistana, tem grande responsabilidade no fomento da produção de fanzines, shows alternativos, ilustrações e outros segmentos do faça-você-mesmo. Adepta do centro de São Paulo onde morava, realizou uma série de bazares chamados Bendgy, que apresentava trabalhos de artistas e bandas independentes. Morando em San Francisco, levou toda essa bagagem para a exposição SF X SP, na galeria Needles & Pens, promovendo um intercambio entre artistas brasileiros e americanos.

Com grande influência dos comics e desenhos animados criados nos anos 80 ou antes, Pacolli ocupa a sala superior da Choque Cultural, com cerca de 35 peças, e a transforma numa espécie de quarto com pequenos quadros e molduras numa linguagem bem limpa, porém repleta de ilustrações – algumas delas criadas em colaboração com seu marido, Mildred. “Hoje, trabalho também com pintura em madeira, colagens, desenho raspado no papel de glitter”, conta a artista.
Seus desenhos são figurativos e mostram personagens infantis, numa mescla entre o terror e o cômico, além de letras delicadas em frases – ora soando romântica, ora non-sense.

SHN é um coletivo criado em Americana, em 1998, vindo do universo punk, hardcore, ou seja, do faça-você-mesmo . Composto por André Ortega, Daniel Cucatti, Eduardo Saretta – também galerista e curador da Choque Cultural -, Haroldo Paranhos, Kleber Botasso, Marcelo Fazzolin e Rogerio Fernandes aka CDR, o SHN foi o primeiro grupo a fazer tiragens em serigrafia e expor uma quantidade de stickers, gravuras e pôsteres exaustivamente repetidos, colados nas ruas de São Paulo, como uma linha de produção em montagem artesanal. O objetivo é a intervenção por meio da linguagem lúdica e bem humorada, adquirida no contato com fazines, revistas e websites de cultura independente.

Aprenderam a usar o silk screen por conta do estúdio de etiquetas adesivas que a família de Daniel Cucatti mantém em Americana, onde se reuniam para trabalhar e aproveitavam para criar os primeiros pôsteres de shows, aprendendo a lidar com fotolitos e matrizes e aplicando desenhos simples em stickers. Justamente por terem que lidar com desenhos simples, fortaleceram seus traços, cores e símbolos icônicos (caveira, copo americano, tridente, flor ou diamante), que fazem com que qualquer transeunte possa identificar os trabalhos do SHN onde estiver.

O trabalho do coletivo não se restringe apenas à produção da serigrafia. Seus fundadores também são responsáveis pela realização de workshops de serigrafia, disseminando a cultura do sticker, do lambe-lambe e do pôster. Sua primeira exposição ocorreu na mostra Ilustradores, na Choque Cultural, em 2008. Além disso, também produzem site specific, tema que foi estudo de conclusão de curso de arquitetura de Haroldo Paranhos. Uma das primeiras atuações nesse segmento foi o projeto Ocupação que, literalmente, encapou com pôsteres uma antiga casa construída em frente à galeria Choque Cultural e que seria demolida para dar lugar a um prédio residencial. Fizeram o mesmo em Basel, na Suíça, durante a exposição Streetart Und Graffitti Aus São Paulo, onde encaparam o almoxarifado do porto de Basel.

Na Coletiva Choque 2011, o SHN apresenta quatro trabalhos: uma instalação com 20 fotos, mostrando registros dos adesivos criados pelo coletivo e aplicados nas ruas do Brasil, da Itália, da Inglaterra, do Egito etc. “Nessa obra, é possível notar que o fato de a técnica do silk screen gerar produção em massa faz com que o nosso seja facilmente visto em diversos lugares do mundo, interagindo com os objetos da cidade, como um hidrante, uma caixa de energia elétrica, um poste etc”, detalha Haroldo Paranhos. Um detalhe importante é a facilidade de distribuição: os coletivos e artistas que trabalham com essa técnica podem trocar stickers entre si, gerando uma rede conectada tanto via correspondência quanto pela internet; foi por meio do fotolog, inclusive, que o SHN se aproximou da galeria Choque Cultural e também de outros artistas que atuavam nesse segmento no começo dos anos 2000.

Outra peça é um painel de 1,40m x 1,40m também em silk screen com uma tela ao lado, projetando fotos do processo criativo do SHN. Nela, seus integrantes usam a técnica do mapping para articular as imagens, criando assim um stop motion.

A terceira obra é uma videoinstalação feita durante o evento Noite dos Museus, em Basel, onde o SHN montou um uma estrutura com câmera de vídeo sobre uma mesa cheia de adesivos do SHN oferecidos as pessoas gratuitamente. A câmera focalizava a mão das pessoas que, ao perceberem, faziam brincadeiras e símbolos. Essa projeção ocorrerá também sobre uma bancada durante toda a exposição.

Por fim, preparam uma composição de telas (um jogo de nove peças e outro de quinze) que reúnem diversos “atropelos” (série de estampas, umas sobre as outras) de silks, em que o SHN varia cores e formas. E como não poderia faltar, as paredes inferiores da Choque Cultural também ganham um painel de lambe-lambe criado pelo SHN.

Coletiva Choque Cultural
Artistas: SHN, Base-V, Pacolli, Pingarilho, Fefe Talavera, Cesar Profeta
Abertura: 19 de março de 2011, das 16h às 20h (até 21 de maio de 2011)
Rua João Moura, 997, Pinheiros, São Paulo
Telefone: (11) 3061-4051
galeria@choquecultural.com.br
Terça-feira a sábado, das 12h às 19h
Grátis
Livre

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