Um dos mais consagrados sambistas brasileiros de todos os tempos, Jorge Aragão fez apresentação única em São Paulo na noite da última sexta-feira, 18, no Credicard Hall. Com muita irreverência e simpatia, o artista carioca interpretou canções de diversas fases de sua carreira, como a antiga Malandro e a mais recente Eu e Você Sempre, entre outras.
A plateia, formada por famílias com pessoas de todas as idades, lotou a casa de shows. A apresentação começou às 22h30, com o sambista sentado num banquinho tocando cavaco e cantando Pecado Capital, de Paulinho da Viola. Logo depois, Jorge Aragão se levantou e começou a cantar seus próprios sambas, acompanhado por mais oito músicos. Com problemas no retorno do áudio no início do show, o artista brincou: “Estou velho, demoro um pouco para engrenar”. Não demorou.
Jorge Aragão anunciou que ia começar a tocar seus sambas velhos e o show se desenrolou. Fizeram parte da apresentação as cançõesEnredo do Meu Samba, gravada pelo Fundo de Quintal, grupo que ajudou a fundar, Coisinha do Pai, Não Sou mais Disso, que compôs com Zeca Pagodinho, Encontro das Águas, de Jorge Vercilo, Vou Festejar, música de João Bosco que fechou a apresentação, além da sua clássica versão de Ave Maria, dedilhada no cavaco por um dos integrantes da banda e o tema de carnaval da Globo, de sua autoria.
Em diversas ocasiões Jorge Aragão se aproximava do público conversando. Na primeira intervenção, o sambista disse que não gosta de encarar o palco como se fosse um “esquema de show”, mas sim como sua casa. Em outra, disse que andava meio preguiçoso e cansado da pirataria, justificando a ausência de novos trabalhos, sendo muito aplaudido. Em mais uma, provocou a plateia dizendo que nas rodas de samba dele e dos seus amigos ninguém ficava sentado em volta da mesa, só queriam saber de sambar. A resposta veio com as pessoas se levantando pouco a pouco. Tudo isso dava ao show um ar mais intimista, apesar do tamanho do Credicard Hall.
Numa dessas conversas o sambista foi surpreendido quando agradecia São Paulo por ter acolhido sua comadre tão bem, coisa que sua terra, o Rio de Janeiro, não havia feito. Ele se referia à Leci Brandão, que no meio da intervenção surgiu de frente para o palco reverenciando seu compadre, que jurou não ter percebido que ela estava lá. O fato inusitado rendeu à Leci muitos aplausos e um coro para subir ao palco, que foi recusado. E assim, após duas horas de surpresa, improviso e bom-humor, Jorge Aragão provou que com ele não existe esse “esquema de show”. Só roda de samba.
Marcus Vinicius Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário