As implicações da arte na idéia contemporânea de crítica da sociedade de consumo ganham evidência na mostra Ecológica, que o Museu de Arte Moderna de São Paulo inaugura na sua Grande Sala no dia 1º de julho (quinta-feira), a partir das 20h. A curadoria de Felipe Chaimovich, inspirada em conceitos do intelectual socialista austro-francês André Gorz, traz 22 obras de artistas nacionais e internacionais que problematizam a abordagem atual da questão ecológica.
Isso porque, na concepção de André Gorz, é preciso reconhecer que o esgotamento dos recursos naturais e a poluição crescente são consequências diretas dos modos de produção e da mentalidade capitalistas, que estimulam o consumo desenfreado e, consequentemente, a produção em quantidades cada vez mais astronômicas, gerando materiais não biodegradáveis, desperdício e futilidade.
Na concepção de ecossistema recorrente hoje, a natureza é tida como um ambiente harmônico e acolhedor, o que não condiz com a realidade. Nas palavras do curador Felipe Chaimovich, “a história da vida na Terra mostra que a natureza é catastrófica, tendo os ciclos de atividade na superfície do planeta praticamente aniquilado toda a vida terrestre em mais de uma ocasião. A permanência de ecossistemas é sempre provisória, e a vida humana eventualmente perecerá, independentemente dos esforços realizados”.
De que forma a arte interferiu para que se criasse essa visão errônea? Desde o século X, os jardins são construídos como se fossem o Éden, um lugar perfeito e isolado do caos reinante ao seu redor. A partir do século XIX, com a instituição dos jardins como parte da vida pública – partindo da construção do Hyde Park, em Londres, e da posterior criação de diversas áreas verdes em Paris, principal referência da civilização ocidental –, a idéia de que a natureza é como um jardim e assim deve ser conservada institucionaliza-se no imaginário coletivo, principalmente do trabalhador comum, que tem nos parques e praças o seu recreio e nas viagens a paisagens paradisíacas a ilusão de um contato real com a natureza selvagem.
A exposição explora as incursões da arte contemporânea no intuito de superar esse equívoco por meio de trabalhos que trazem à tona o caráter predatório da sociedade de consumo, de forma a que o público tome consciência de que ecologia não é a manutenção de seu jardim privado, mas de um ecossistema com regras próprias, cuja dinâmica pode ser cruel contra abusos. Um exemplo é o coletivo Superflex, que tem seu vídeo Flooded McDonald’s (2009) projetado na exposição. Nele, uma réplica em tamanho natural de uma loja da rede internacional de fast food é inundada até o teto, na melhor tradição do cinema de catástrofe.
Dois tipos de obras compõem a mostra: as de suportes mais tradicionais, com trabalhos conceituais e realizados em materiais variados; e as obras vivas, formadas por plantas naturais, que terão o cuidado constante de um jardineiro instalado no local, na obra de Paulo Bruscky Expediente: primeira proposta para o XXI Salão Oficial de Arte do Museu do Estado de Pernambuco (projeto) (1978/05), em que o ambiente de trabalho de um funcionário do museu é reproduzido em pleno espaço expositivo.
Alguns trabalhos foram criados especialmente para a exposição. Fernando Limberg desafia a gravidade com plantas que brotam de um cubo gigante de fibra de coco suspenso no teto do museu (Complementares), enquanto Rodrigo Bueno mescla plantas e madeira na instalação Entrelaço, que invade a marquise e faz parte do grupo de obras que interagem com o parque, elemento importante dentro da concepção da mostra.
Conhecida por seu trabalho voltado para a questão ambiental, Floriana Breyer é outra artista a incluir o parque em sua obra, a Arca Sideral, uma bicicleta adaptada como um carrinho, que percorrerá trechos do Ibirapuera em horários variados aos sábados. O autodenominado Jardineiro André Feliciano traz ao museu o Jardim fotográfico, feito de plantas artificiais em espiral. Lucia Gomes Zinggeler propõe um protesto contra o lixo enviado de navio pela China ao Brasil com o container Me manda pra China, onde o público pode descartar produtos chineses. O container ficará no Brasil.
O acervo do MAM-SP também ganha representação na mostra, com Reflectwo (2008), de Haruka Kojin; Transestatal (2006), de Marcelo Cidade; Arquipélagos (2005), de Marcius Galan, Armazém (1994/97), de Nelson Leirner; a série de bancos sem título (mobiliário popular, 2007), de Rivane Neuenschwander; a série Comunhão (2006), de Rodrigo Braga; Cortina de Vento (2009), de Rodrigo Matheus; e o Projeto Fórum Social Mundial (2003), de Iftah Peled
Além dos artistas já citados, participam da exposição Gabriela Albergaria (Projecto: Triano, composto por cinco dípticos, 2010), Marcelo Zocchio (Lançamentos, 2008); Mauricio Dias e Walter Riedweg (A casa, 2007); Opavivará (série Espreguiçadira multi, 2010); e Ricardo Basbaum (“Você gostaria de participar de uma experiência artística?”, 1994-2010)
O catálogo da exposição terá lançamento simultâneo à abertura da mostra em uma edição pequena, como um manual, com fotos das obras e textos do curador e do próprio André Gorz.
O curador - Felipe Chaimovich, curador do Museu de Arte Moderna de São Paulo desde janeiro de 2007, nasceu no Chile e é brasileiro radicado no Brasil. É doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo e professor do curso de Artes Plásticas da FAAP. É membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte e do Comitê Brasileiro de História da Arte. Como curador, realizou as exposições Panorama da Arte Brasileira 2005, Cinqüenta 50, 2080, Sono da Razão, Dez dias de arte conceitual no acervo do MAM e Duchamp-me (MAM-SP), Forma Perversa (Galeria Luisa Strina) e Ouro de Artista (Casa Triângulo/ Projeto Leonilson), entre outras. Tem um livro publicado sobre o artista plástico Iran do Espírito Santo (São Paulo: Cosac Naify, 2000).
SERVIÇO
Exposição Ecológica (Grande Sala)
Curadoria: Felipe Chaimovich
Abertura: 1º de julho, a partir das 20h
Visitação: 2 de julho a 29 de agosto de 2010
Endereço: Parque do Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portão 3)
tel (11) 5085-1300
Horários: Terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h)
Ingresso: R$ 5,50
- Sócios do MAM, crianças até 10 anos e adultos com mais de 65 anos não pagam entrada. Aos domingos, a entrada é franca para todo o público, durante todo o dia
- Agendamento gratuito de visitas em grupo pelo tel. 5085-1313 e email educativo@mam.org.br
Site: http://www.mam.org.br/
- Estacionamento no local (Zona Azul: R$ 3 por 2h)
- Acesso para deficientes
- Restaurante/café
- Ar condicionado
Isso porque, na concepção de André Gorz, é preciso reconhecer que o esgotamento dos recursos naturais e a poluição crescente são consequências diretas dos modos de produção e da mentalidade capitalistas, que estimulam o consumo desenfreado e, consequentemente, a produção em quantidades cada vez mais astronômicas, gerando materiais não biodegradáveis, desperdício e futilidade.
Na concepção de ecossistema recorrente hoje, a natureza é tida como um ambiente harmônico e acolhedor, o que não condiz com a realidade. Nas palavras do curador Felipe Chaimovich, “a história da vida na Terra mostra que a natureza é catastrófica, tendo os ciclos de atividade na superfície do planeta praticamente aniquilado toda a vida terrestre em mais de uma ocasião. A permanência de ecossistemas é sempre provisória, e a vida humana eventualmente perecerá, independentemente dos esforços realizados”.
De que forma a arte interferiu para que se criasse essa visão errônea? Desde o século X, os jardins são construídos como se fossem o Éden, um lugar perfeito e isolado do caos reinante ao seu redor. A partir do século XIX, com a instituição dos jardins como parte da vida pública – partindo da construção do Hyde Park, em Londres, e da posterior criação de diversas áreas verdes em Paris, principal referência da civilização ocidental –, a idéia de que a natureza é como um jardim e assim deve ser conservada institucionaliza-se no imaginário coletivo, principalmente do trabalhador comum, que tem nos parques e praças o seu recreio e nas viagens a paisagens paradisíacas a ilusão de um contato real com a natureza selvagem.
A exposição explora as incursões da arte contemporânea no intuito de superar esse equívoco por meio de trabalhos que trazem à tona o caráter predatório da sociedade de consumo, de forma a que o público tome consciência de que ecologia não é a manutenção de seu jardim privado, mas de um ecossistema com regras próprias, cuja dinâmica pode ser cruel contra abusos. Um exemplo é o coletivo Superflex, que tem seu vídeo Flooded McDonald’s (2009) projetado na exposição. Nele, uma réplica em tamanho natural de uma loja da rede internacional de fast food é inundada até o teto, na melhor tradição do cinema de catástrofe.
Dois tipos de obras compõem a mostra: as de suportes mais tradicionais, com trabalhos conceituais e realizados em materiais variados; e as obras vivas, formadas por plantas naturais, que terão o cuidado constante de um jardineiro instalado no local, na obra de Paulo Bruscky Expediente: primeira proposta para o XXI Salão Oficial de Arte do Museu do Estado de Pernambuco (projeto) (1978/05), em que o ambiente de trabalho de um funcionário do museu é reproduzido em pleno espaço expositivo.
Alguns trabalhos foram criados especialmente para a exposição. Fernando Limberg desafia a gravidade com plantas que brotam de um cubo gigante de fibra de coco suspenso no teto do museu (Complementares), enquanto Rodrigo Bueno mescla plantas e madeira na instalação Entrelaço, que invade a marquise e faz parte do grupo de obras que interagem com o parque, elemento importante dentro da concepção da mostra.
Conhecida por seu trabalho voltado para a questão ambiental, Floriana Breyer é outra artista a incluir o parque em sua obra, a Arca Sideral, uma bicicleta adaptada como um carrinho, que percorrerá trechos do Ibirapuera em horários variados aos sábados. O autodenominado Jardineiro André Feliciano traz ao museu o Jardim fotográfico, feito de plantas artificiais em espiral. Lucia Gomes Zinggeler propõe um protesto contra o lixo enviado de navio pela China ao Brasil com o container Me manda pra China, onde o público pode descartar produtos chineses. O container ficará no Brasil.
O acervo do MAM-SP também ganha representação na mostra, com Reflectwo (2008), de Haruka Kojin; Transestatal (2006), de Marcelo Cidade; Arquipélagos (2005), de Marcius Galan, Armazém (1994/97), de Nelson Leirner; a série de bancos sem título (mobiliário popular, 2007), de Rivane Neuenschwander; a série Comunhão (2006), de Rodrigo Braga; Cortina de Vento (2009), de Rodrigo Matheus; e o Projeto Fórum Social Mundial (2003), de Iftah Peled
Além dos artistas já citados, participam da exposição Gabriela Albergaria (Projecto: Triano, composto por cinco dípticos, 2010), Marcelo Zocchio (Lançamentos, 2008); Mauricio Dias e Walter Riedweg (A casa, 2007); Opavivará (série Espreguiçadira multi, 2010); e Ricardo Basbaum (“Você gostaria de participar de uma experiência artística?”, 1994-2010)
O catálogo da exposição terá lançamento simultâneo à abertura da mostra em uma edição pequena, como um manual, com fotos das obras e textos do curador e do próprio André Gorz.
O curador - Felipe Chaimovich, curador do Museu de Arte Moderna de São Paulo desde janeiro de 2007, nasceu no Chile e é brasileiro radicado no Brasil. É doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo e professor do curso de Artes Plásticas da FAAP. É membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte e do Comitê Brasileiro de História da Arte. Como curador, realizou as exposições Panorama da Arte Brasileira 2005, Cinqüenta 50, 2080, Sono da Razão, Dez dias de arte conceitual no acervo do MAM e Duchamp-me (MAM-SP), Forma Perversa (Galeria Luisa Strina) e Ouro de Artista (Casa Triângulo/ Projeto Leonilson), entre outras. Tem um livro publicado sobre o artista plástico Iran do Espírito Santo (São Paulo: Cosac Naify, 2000).
SERVIÇO
Exposição Ecológica (Grande Sala)
Curadoria: Felipe Chaimovich
Abertura: 1º de julho, a partir das 20h
Visitação: 2 de julho a 29 de agosto de 2010
Endereço: Parque do Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portão 3)
tel (11) 5085-1300
Horários: Terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h)
Ingresso: R$ 5,50
- Sócios do MAM, crianças até 10 anos e adultos com mais de 65 anos não pagam entrada. Aos domingos, a entrada é franca para todo o público, durante todo o dia
- Agendamento gratuito de visitas em grupo pelo tel. 5085-1313 e email educativo@mam.org.br
Site: http://www.mam.org.br/
- Estacionamento no local (Zona Azul: R$ 3 por 2h)
- Acesso para deficientes
- Restaurante/café
- Ar condicionado
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