A VIDA E A OBRA DE MAZZAROPI
Biografia escrita pela jornalista Marcela Matos após três anos de pesquisa resgata as histórias do grande nome do cinema popular brasileiro e revela a face empreendedora do famoso caipira.
Mais do que um dos artistas brasileiros mais populares de seu tempo, o ator, produtor e diretor Amacio Mazzaropi foi, ao seu modo, um verdadeiro homem de negócios e um dos maiores difusores do cinema nacional, protagonizando 32 filmes — praticamente um por ano — entre as décadas de 1950 e 80. Da pobreza ao sucesso, sua trajetória é finalmente narrada na biografia Sai da frente! A vida e a obra de Mazzaropi, que, escrito pela jornalista Marcela Matos e lançado pela Editora Desiderata, resgata a importância de um nome cuja trajetória, do rádio à televisão, se confunde com a história da comunicação no Brasil.
Nascido em 1912, em São Paulo, Mazza — como era chamado pelos amigos —, descendente de imigrantes italianos e portugueses, desde pequeno demonstrava talento para arte. Iniciou sua carreira muito jovem, no picadeiro, se juntando a circos que se apresentavam no interior do estado. Nos anos 1940 entrou nas ondas do rádio, estreando com o programa Rancho Alegre, na Tupi, que se tornou um enorme sucesso de audiência. O cinema foi um caminho natural: contratado pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, estrelou a comédia Sai da frente e, com ousado espírito empreendedor, percebeu que podia produzir ele mesmo seus filmes. Foi assim que, em 1958, montou seu próprio negócio, a PAM Filmes, que, além de apresentar atores como Tarcisio Meira e Luiz Gustavo, levou às telas o personagem que se tornaria sua marca registrada: o famoso Jeca, figura inspirada nos livros de Monteiro Lobato.
A ideia deu tão certo que o personagem — o ingênuo, porém esperto, homem do campo — retornou em uma série de filmes: Jeca e a freira, O Jeca macumbeiro, Jeca contra o capeta, Jeca e seu filho preto e, por último, Jeca e a égua milagrosa. Com eles, o ator entretinha as mais variadas plateias ao mesmo tempo em que retratava a dura realidade social brasileira, repleta de miséria, desemprego e corrupção. No entanto, apesar do sucesso comercial de todas as suas produções, a crítica praticamente ignorava o trabalho de Mazzaropi. “Pois é, falam mal de mim”, disse já no fim de sua carreira. “Só quero ver quando eu morrer. Daí vão fazer festivais com meus filmes e tem gente que é capaz de dizer até que eu fui um gênio.” Suas palavras soam proféticas: quase 30 anos depois de sua morte, em 1981, Mazzaropi é constantemente lembrado como o grande criador do cinema popular brasileiro. Sua memória está hoje registrada no museu que leva o seu nome assim como em um hotel, uma casa de cultura, uma escola e uma rua, enquanto sua criação segue influenciando filmes aclamados como A marvada carne (1985), de André Klotzel, e Tapete vermelho (2007), de Luiz Alberto Pereira.
Resultado de três anos de trabalho, Sai da frente! A vida e a obra de Mazzaropi apresenta ao leitor histórias que vão desde os dias difíceis — mas também divertidos — do começo da carreira de ator à consagração como um produtor de cinema criativo e prolífero. A obra, ilustrada com uma grande quantidade de fotos cedidas pelo Instituto Mazzaropi, que também abriu as portas do Museu Mazzaropi e de todo o seu acervo para a pesquisa, traz ainda reproduções dos cartazes dos filmes, filmografia completa e as fichas técnicas de cada produção.
SOBRE A AUTORA
Natural do Rio de Janeiro, a jornalista Marcela Matos vive em São Paulo, onde se dedica à comunicação corporativa. Doutora em jornalismo pela USP, é professora universitária, tendo trabalhado em diferentes veículos de comunicação. Entre seus livros publicados está a biografia Yolanda Figueiredo: Uma vida de fé, ética e muito bom humor (2009).
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