Jornalista espanhol desvenda o cotidiano dos dalits e fala da sua luta para proteger as crianças de Bombaim da prostituição.
Sorrisos de Bombaim aborda a rotina de Kamathipura,
o maior distrito de prostituição da Ásia
Mais de 160 milhões de indianos continuam suportando o peso de um sistema de castas existente há dois mil anos e promulgado pela teologia hindu, que encerra as pessoas num rol imutável, determinado por seu nascimento. Embora o termo “intocável” tenha sido abolido em 1950 pela constituição da Índia, os dalits – ou pessoas oprimidas, como são atualmente chamadas – continuam sendo discriminados. Segundo o fundador do sistema, o legislador Manu, cada indivíduo nasceu numa das principais varnas, ou grandes categorias e há de permanecer nela até a morte.
Os dalits são a maior parte dos 40 milhões de trabalhadores forçados (que trabalham como escravos) existentes na Índia, incluídos 15 milhões de crianças.
Neste mais recente lançamento da editora Larousse do Brasil – Sorrisos de Bombaim, o jornalista Jaume Sanllorente narra suas experiências com os intocáveis da Índia e a sua luta para proteger as crianças do país da prostituição.
Em sua segunda viagem ao país Jaume deparou com alguns personagens que foram primordiais para a criação da Ong Sorrisos de Bombaim – instituição criada por ele e responsável pela educação de mais de duas mil crianças indianas e pela moradia de cerca de cem delas – entre eles Priyanka, um menino de dois anos que vivia em Kamathipura.
Fiquei ali observando os cartazes e a parede cheia de umidade, visível inclusive com a luz mortiça. Quando olhei para o chão, vi um pequeno ser de cócoras, me observando de olhos arregalados. Aquele menino, que não teria mais de dois anos, fitava-me atônito, enquanto levava algo à boca. Estava mais surpreso com a minha presença do que com os gritos do cliente da mulher que certamente seria sua mãe. Sorri-lhe e ele continuou me olhando. Apenas afastou um pouco a mão dos lábios para que, apesar do mau ângulo onde eu estava e de luz escassa, eu pudesse ver que ele tinha na boca um preservativo usado.
Com seu cuidadoso relato e sua visão aguda, o jornalista desvenda a rotina das crianças de Bombaim, as histórias por trás da miséria, a cultura, a religião, e a sua luta para criar a Sorrisos de Bombaim. Atualmente ele trabalha também no desenvolvimento de projetos para leprosos na Índia. Jaume é vítima de preconceito e seu trabalho é constantemente ameaçado por “cafetões” que querem aliciar crianças para prostituição. Estudou muito sobre as religiões e sua filosofia é aceitar e respeitar todas elas. Muitas vezes tem problema com isso por conta das escolas, pois os pais não querem matricular seus filhos em uma instituição que possui crianças de outras religiões.
O nome da instituição “Sorrisos de Bombaim” deve-se aos sorrisos intermináveis das crianças de uma cidade pobre, triste, suja, sem infra-estrutura fatos que não são suficientes para tirar o sorriso e alegria delas. O livro é uma narrativa emocionada do jornalista que abandonou sua carreira e seu país pelo amor ao próximo.
Pág: 189
Tradução: Clara A. Colotto
Preço: R$ 34,00
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